Agrofloresta
é o tema do curso que acontece na região de Visconde de Mauá
durante os meses de outubro e novembro de 2005, como parte integrante do
Programa de Gestão Sócio Ambiental da APA da Mantiqueira.
O curso é ministrado por Roberto Lamego, presidente da ONG SALVEASERRA,
Grupo de Proteção Ambiental da Serra da Concórdia,
que difunde o uso de um novo modelo agrícola economicamente sustentável,
baseado nos Sistemas Agroflorestais. Lamego também está à
frente do Santuário de Vida Silvestre da Serra da Concórdia,
uma Reserva Florestal Legal, localizada na Fazenda Santo Antônio
da Aliança, nos Municípios de Barra do Piraí e Valença.
Os Sistemas Agroflorestais, além de variáveis, são
flexíveis. Para cada local deve ser encontrado um modelo específico
que garanta a produção de alimentos e produtos agroflorestais
de alta qualidade biológica, e que mantenha a estabilidade ecológica
e socioeconômica das áreas trabalhadas, para garantir a produção
no longo prazo. Este sistema tanto pode atender agricultores familiares
com pequenos hortos caseiros e áreas de produção agroflorestal,
até grandes empresas que manejam plantações florestais.
- Sem renda não há ecologia, pois o proprietário de
terra sempre pensa em buscar algo que o sustente, - argumenta Lamego. –
Por isso é sempre importante pensar na produção e principalmente
na comercialização quando se planeja formar uma agrofloresta.
A terra para o projeto pode ser tanto pode ser uma capoeira que precise
ser melhorada como uma área de pastagens degradadas que precise de
recuperação.
Durante a palestra inaugural do curso, no dia 15 de outubro, no local conhecido
como Resfriadeira, em Mauá, Roberto Lamego explicou que a vocação
das terras brasileiras é florestal: - Se você pega um pasto
e abandona, os passarinhos trazem as sementes e a mata vai se criando. Depois
de dez anos já virou uma pequena floresta.
Dentre os benefícios socioeconômicos desse sistema destacam-se
os produtos: alimentos, lenha, adubo verde, plantas medicinais e ornamentais,
quebra-ventos, embelezamento da paisagem e sombra.
- A sombra é fundamental, por exemplo, na criação de
gado leiteiro. Que quantidade de leite podem dar vacas constantemente expostas
ao sol inclemente, a um calor de 40 graus? – afirma Lamego mostrando
uma foto na qual três vacas disputam a sombra de uma única
árvore.
Outra função social importante dos sistemas agroflorestais
é a fixação do homem no campo. Os tratos culturais
e as colheitas ocorrem em diferentes épocas do ano. A alternância
da produção ao longo do ano e a diversificação
de produtos possibilitam um fluxo de caixa mais favorável e, conseqüentemente,
isso acarreta em melhoria das condições de vida.
Na fase inicial, a associação de culturas anuais (como grãos)
ou de ciclo curto (como hortaliças) juntamente com as árvores
reduz os custos de implantação do sistema agroflorestal. No
longo prazo o custo também é minimizado quando as árvores
e as palmeiras começam a gerar produtos comercializáveis,
tais como madeira e frutas, por exemplo.
Lamego alertou para a necessidade de divulgação dos sistemas
agroflorestais entre os produtores rurais, pois o desmatamento é
a causa da falta de água e da seca em todos os estados. – A
frente fria que vem do Sul não consegue ultrapassar as colunas de
ar quente provocadas pelo desmatamento. Além disso, o vento resseca
a terra nua, o sol queima os nutrientes da terra exposta que não
absorve a chuva, quando esta vem de enxurrada.
Alguns produtores rurais presentes na palestra inaugural levantaram a discussão
sobre a legislação ambiental. Ao contrário de proteger,
as leis acabam tendo efeito contrário. Os proprietários apressam-se
em cortar os palmitos e araucária quando essas mudas são bem
pequenas, pois sabem que depois vão ter problemas se quiserem tirar.
Na opinião do produtor rural Gilson Nigel é preciso mudar
o enfoque e incentivar a plantação, no lugar de proibir a
exploração. Lamego concordou e ponderou que os criadores das
leis ambientais geralmente têm visão acadêmica e biológica
e que é preciso discutir, refletir e promover mudanças na
legislação para possibilitar o aproveitamento agroflorestal
das terras próximas das áreas de conservação
ambiental.