Monumentos Geológicos
André Ilha (*)
O estado do Rio de Janeiro é um dos mais ricos de
todo o Brasil em termos de monumentos geológicos notáveis. De fato,
algumas montanhas fluminenses, pelas suas silhuetas formosas e
situação privilegiada, tais como o Pão de Açúcar e o
Corcovado, ambas na capital, adquiriram renome internacional.
Inúmeras outras, contudo, merecem igual destaque; tantas, na
realidade, que apresentaremos aqui apenas as mais expressivas de
cada um dos principais maciços fluminenses.
Na Serra da Mantiqueira o maciço do Itatiaia, em
boa parte protegido pelo parque nacional homônimo, tem no Pico
das Agulhas Negras, com 2.797 m, o seu ponto culminante, sendo
também o ponto mais elevado de todo o estado. Outras montanhas
significativas do Itatiaia são as Prateleiras, a Pedra do
Altar, e a Pedra Assentada, valendo ainda a menção às
pequenas, porém curiosas, Pedra da Maçã, Pedra da
Tartaruga e Asa de Hermes. Fora do parque, mas na mesma
região, merecem destaque os dois cumes da Pedra Selada, no
município de Resende.
Na Região Sul do estado elevam-se os íngremes
contrafortes da Serra da Bocaina, que atingem grande altitude e
formam diversos picos de inegável beleza, dos quais a Pedra do
Frade reina absoluta em Angra dos Reis, enquanto que o Pico
das Três Orelhas é uma das atrações do município de
Mangaratiba.
Na Reserva Ecológica Estadual da Juatinga, em
Parati, as escarpas saem diretamente do mar para atingir altitudes
um pouco superiores aos mil metros no Pico do Cairuçu, em
cujas cercanias encontram-se, provavelmente, alguns remanescentes de
mata primária e muitas espécies ameaçadas de extinção, entre elas um
pequeno grupo de muriquis – o maior primata das Américas. Não muito
distante dali, na Ilha Grande, temos outra serra com montanhas de
grande beleza, dentre as quais reina o Pico do Papagaio, com
seu curioso formato.
A cidade do Rio de Janeiro é uma das áreas mais
pródigas em montanhas do estado. Além dos já mencionados Pão de
Açúcar e Corcovado, que dispensam maiores comentários,
temos, no Parque Estadual da Pedra Branca os Dois Irmãos de
Jacarepaguá, a Pedra Grande e a própria Pedra
Branca, ponto culminante do município do Rio de Janeiro com seus
1.024 m; no Parque Nacional da Tijuca, que compreende as quotas mais
elevadas da Serra da Carioca, o Bico do Papagaio, a Pedra
da Gávea e o Pico da Tijuca (1.021 m) são os destaques;
finalmente, na Reserva Florestal do Grajaú, sob administração
estadual, a pirâmide quase perfeita do Perdido do Andaraí é
verdadeiramente admirável.
Nas vizinhas Niterói e Maricá a Serra da Tiririca
se eleva em relativo isolamento, sendo que o conjunto formado pelo
Alto Mourão, pelo Morro do Telégrafo e pela Agulha
Guarischi formam um cenário de cartão postal.
É na apropriadamente chamada Região Serrana do
estado, contudo, que se encontra a maior concentração de formações
rochosas de tirar o fôlego do estado do Rio de Janeiro.
Como pano de fundo da Baixada Fluminense ergue-se a
Serra do Tinguá, imensa escarpa que abriga uma das maiores extensões
contínuas de floresta ombrófila densa de todo o estado, e cujo ponto
culminante é a Pedra da Congonha, em Xerém. Já Petrópolis
ostenta uma impressionante coleção de gigantescos morros
arredondados, dos quais se destacam a Maria Comprida, em
Araras; o Alcobaça e o Mãe D’Água, em Correas; e o
grupo de montanhas em torno dos morros do Taquaril e da
Jacuba, na Posse.
É também em Petrópolis que começa a Serra dos
Órgãos, que muitos consideram o mais belo maciço de montanhas do
Brasil. Ela ganhou este nome por que os portugueses quando aqui
chegaram, ao ver à distância os colossais pontões graníticos que a
compõe, acharam que eles se assemelhavam aos tubos de um gigantesco
órgão divino, o que talvez explique por que tantas de suas montanhas
possuam nomes de santos ou de temas litúrgicos. Em sua maior parte
protegida por um parque nacional, que tem uma longa tradição de bom
relacionamento com os muito montanhistas que o freqüentam, a Serra
dos Órgãos em geral, e o Dedo de Deus em particular, são
ótimos exemplos de como uma paisagem natural bem preservada pode ser
um trunfo econômico para uma cidade – no caso, Teresópolis, embora
suas principais montanhas estejam em terras do município de
Guapimirim.
São inúmeros os picos de grande beleza e elegância
na Serra dos Órgãos. A vista clássica, na saída da cidade, inclui o
Escalavrado, que conta com uma longa aresta livre de
vegetação que parece o dorso de um gigantesco animal pré-histórico
voltado para a estrada; o Dedo de Nossa Senhora, grande
pontão que se situa um pouco mais longe; e o já citado Dedo de
Deus, um pontão ainda maior e mais afilado, que tem ao seu redor
os Dedinhos, elevações secundárias que ajudam no entanto a
compor a grande mão divina da Região Serrana. Acima destes erguem-se
picos cada vez maiores, como Cabeça de Peixe, Santo
Antônio, São João, São Pedro... Mas a montanha mais
impressionante da Serra dos Órgãos é, sem dúvida, a Agulha do
Diabo, imenso punhal de granito apontado para o ar e apoiado em
um pedestal cuja base fica a quase 1 km do topo da montanha. Ela se
encontra rodeada de paredes igualmente altas nos vizinhos
Garrafão, Coroa do Frade e na Pedra do Sino,
ponto culminante do parque com 2.263 m.
A vizinha Friburgo também é repleta de monumentos
geológicos únicos. Na localidade conhecida como Furnas, o Cão
Sentado é uma pedra que guarda extraordinária semelhança com o
objeto do seu nome, e a Pedra do Cônego é um grande morro
arredondado no perímetro urbano da cidade. Mas é na fronteira entre
Friburgo e Teresópolis que se encontram as montanhas mais
espetaculares da região, em lugares como Salinas, Vale dos Frades e
Bonsucesso. Em Salinas temos os Três Picos de Friburgo, sendo
(o Pico Maior é o ponto culminante de toda a Serra do Mar) e
o Capacete, impressionante conjunto de picos graníticos muito
procurado pelos escaladores de todo o Brasil e mesmo do exterior.
Além deles, a Caixa de Fósforos é um bloco solto de formato
mais ou menos cúbico, com cerca de 20 metros de altura,
precariamente equilibrado em um pedestal bem menor do que ele.
Abaixo da Caixa de Fósforos estende-se o
Vale dos Frades, onde se destacam a gigantesca parede nua do
Morro dos Cabritos e, do outro lado do rio, uma seqüência de
montanhas apenas um pouco menores. Mais adiante, a Pedra
D’Anta e os Dois Bicos do Vale das Sebastianas completam
um cenário que é um dos mais belos, e também um dos menos
conhecidos, de todo o estado. Outras elevações notáveis nos
arredores, ambas no perímetro de Teresópolis, são os morros que
formam a Mulher de Pedra e as Torres de Bonsucesso, na
localidade homônima.
Seguindo em direção ao norte uma ou outra montanha
se destaca na paisagem, como por exemplo a Pedra Manoel de
Moraes, em Trajano de Moraes, mas chegando em Santa Maria
Madalena é que tem início o último grande maciço do estado, a Serra
do Desengano, cujo ponto culminante é o Pico do Desengano.
Incluída no primeiro e maior parque estadual do Rio de Janeiro, ela
no entanto encontra-se inacessível à população, pois a quase
totalidade de suas terras ainda se encontra em mãos
particulares.
Outras montanhas notáveis, que não poderiam deixar
de ser mencionadas devido à sua imponência, são a Pedra Lisa,
em Morro do Côco, Campos, espetacular agulha rochosa isolada; o
Morro de São João, em Casimiro de Abreu; a Pedra do
Frade, em Macaé; e a Agulha de Itacolomi, em Santo
Aleixo, Magé.
(*) André Ilha é presidente do Instituto Estadual de
Florestas – IEF (RJ)

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