Seminário de Mobilização Ecodesenvolvimento de Montanhas - 2002

Resultados superaram as expectativas

Mais de 100 pessoas participaram ativamente do Seminário de Mobilização Ecodesenvolvimento de Montanhas, realizado nos dias 15 e 16 de agosto, no Parque Nacional do Itatiaia.  Para o idealizador e organizador do evento, Luis Felipe César, todas as expectativas foram superadas. “Foi ótimo ver experiências tão diferentes sendo compartilhadas por um público sempre interessado. A participação de todos superou todas as expectativas. Com certeza, este Seminário vai alavancar as ações de mobilização em todo o Brasil”.

O evento foi realizado pela ong Crescente Fértil, que teve que selecionar os participantes devido a grande procura por vagas. Foram inscritas experiências de autores de Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, além de ter despertado o interesse de organizações da Índia e República Democrática do Congo. Ao todo, 30 experiências das mais diversas foram apresentadas, com participação e aplausos calorosos da platéia que lotava o Auditório do Centro de Visitantes do Parque Nacional. As experiências foram partilhadas na tarde de quinta-feira e na manhã de sexta-feira, com um tempo máximo de 10 minutos para cada autor.

O momento decisivo do encontro aconteceu na tarde de sexta-feira, quando os participantes participaram de uma plenária apresentando idéias para uma estratégia de mobilização regional e nacional para o Ecodesenvolvimento de Montanhas. Grupos foram divididos por temas para discutir as próximas ações e então determinaram as metas para garantir o ecodesenvolvimento saudável das montanhas de todo o Brasil. Os resultados do encontro serão encaminhados à comitiva brasileira da Conferência Rio+10, visando contribuir para a posição nacional relativa a sustentabilidade dos ecossistemas de montanha.

Um importante resultado do evento foi a carta redigida pelos participantes que será encaminhada ao Ministro do Meio Ambiente, solicitando que a partir deste momento seja iniciado o processo de criação do Comitê Nacional para os Ecossistemas de Montanhas, a fim de articular, apoiar e potencializar ações, estabelecer políticas nacionais específicas e interagir com os órgãos do Sistema das Nações Unidas coordenadoras do Ano Internacional das Montanhas. Também ficou decidido que o próximo encontro será realizado em São Joaquim/SC, ainda sem data marcada.

Alimentação – a organização do evento ofereceu café-da-manhã, almoço e sopa para todos os participantes durante os dois dias do seminário. O café-da-manhã contava com as receitas das merendeiras de Itatiaia para o projeto Reaproveitar é a Melhor Idéia e também com pães, doces e outras delícias feitas por moradoras da Serrinha e de Visconde de Mauá. O almoço representou a comida típica dos moradores das montanhas, com pratos simples e deliciosos. Ao final do dia, era oferecida uma saborosa sopa para recarregar as energias. O Parque Nacional do Itatiaia também ofereceu um coquetel de encerramento envolvendo os participantes numa confraternização de  troca de idéias, sem hora para terminar.

Hospedagem – o Parque Nacional do Itatiaia cedeu alojamentos para os participantes que vieram das cidades mais distantes. Moradores e estudiosos das montanhas ficaram alojados dentro do próprio Parque Nacional durante os dias do evento.

Parceiros – A Crescente Fértil fez questão de agradecer várias vezes os parceiros que contribuíram para que o evento fosse realizado. “Sem a ajuda dos parceiros, seria impossível alcançar o sucesso que obtivemos com o Seminário”, agradece Felipe César. São eles: IBAMA, Parque Nacional do Itatiaia, Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Prefeitura de Itatiaia, Federação de Esportes de Montanhas do Rio de Janeiro, Instituto Estadual de Florestas, Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e Fundação Luterana de Diaconia.

Website – Todos os trabalhos e experiências apresentados serão disponibilizados no website www.itatiaia.org.br, que promove o encontro e a troca de informações sobre as montanhas brasileiras. Além de conhecer as experiências, os interessados também podem deixar seu recado no Fórum Eletrônico, que continuará no ar.

Serra da Mantiqueira – Os participantes do seminário assinaram carta a ser encaminhada ao Ministério do Meio Ambiente pedindo a definitiva implantação da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, através da formação de seu Conselho Deliberativo e elaboração do Plano de Manejo da APA.

Arte como sensibilização – No início e término de cada dia de trabalho, os participantes do Seminário assistiram a apresentações artísticas visando sensibiliza-los e motiva-los. No primeiro dia, uma simpática velhinha representada por Hélène Artur Delmonte, veio dar as boas-vindas, trazendo uma mensagem de longevidade e vitalidade, sempre em paz com a natureza. Para encerrar os trabalhos de quinta-feira, Chicão incentivou uma dinâmica cujo objetivo era mostrar que não temos que copiar exemplos e sim seguir nossos corações. Para fechar com chave de ouro, o espetáculo Viverde Som emocionou o público com canções de Tom Jobim destacando todo o encanto da Mata Atlântica, na voz magnífica de Malu Rocha, com violão e percussão de Wellington Carvalho.

Alguns depoimentos sobre o evento:

•     Léo Nascimento, gerente do Parque Nacional do Itatiaia, durante a abertura: “O Felipe se esforçou desde o ano passado e conseguiu colocar todo esse pessoal aqui. Parabéns. O Parque Nacional deseja a todos uma boa estadia e um grande evento”.

•     Luis Felipe César, responsável pelos projetos ambientais da ong Crescente Fértil, na apresentação inicial: “Esse Seminário não só alavanca nacionalmente a discussão sobre o ecossistema de montanhas, como também se integra mundialmente. Somos todos gente de montanha!”.

•     Kátia Torres, pesquisadora científica, durante o painel de abertura: “É um prazer ver toda a platéia envolvida. É uma oportunidade rara de encontrar pessoas de diversas vertentes que se congregam nas montanhas”.

•     André Vieira Ramos de Assis, funcionário do Ministério da Agricultura, durante o painel de abertura: “Não existe uma política ambiental de sucesso se se opor à maré de pessoas pobres que não tem nada para viver e por isso precisam desfrutar dos recursos naturais que existem nas montanhas”.

•     Luis Felipe César, responsável pelos projetos ambientais da ong Crescente Fértil, durante o encerramento: “Agradeço a todos vocês pela paciência, dedicação e ações maravilhosas pelas montanhas”.

Experiências apresentadas:

Quinta-feira, dia 15 de agosto

1.       Integrando Ações na Serra da Mantiqueira – Regiane Alves, Hélène Artur Delmonte, Isabel de Andrade Pinto e jovens do Integrando

2.       Contribuição ao plano de manejo do Parque Estadual da Pedra Branca – Nadja Maria Castilho da Costa (professora adjunta do Departamento de Geografia da UERJ)

3.       Metodologia multicriterial na delimitação inicial de Unidades de Conservação – Udson Dias de Oliveira Júnior (UFSC/ Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental)

4.       Alto da Santa Clara – Maria Lúcia Abaurre Gnerre (Unicamp), Gustavo César O. Baez (Guia Regional pelo Senac/Resende) e Marco Aurélio Zakir (Técnico em Gestão de Unidades de Conservação)

5.       Conhecer o entorno do Parque Estadual de Nova Baden, Lambari/MG – Leandro Léo Ferreira (aluno de agronomia da UFRRJ)

6.       Matutu, Unidade de Conservação Transdisciplinar – Luiz Midéia (Fundação Matutu)

7.       Mauá Sustentável – Eduardo Muccillo Bica de Barcelos (Escola Rural da Mantiqueira)

8.       Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais – Flávio Luiz de Castro Jesus (Instituto Estadual de Florestas/RJ)

9.       O caso do licenciamento ambiental das Pequenas Centrais Elétricas Ninho da Águia, Delfim Moreira/MG – Francisco Dupas (Universidade Federal de Itajubá)

10.   Mobilização popular contra a construção da Usina Hidroelétrica Cubatão – Paulo Tarjes Lindner (ong SOS Cubatão)

11.   Viabilidade do ecoturismo no Monte Crista, Garuvas/SC – Orlando Ednei Ferretti

12.   Ecoturismo na Região das Agulhas Negras – Anderson Naves (Grupo Excursionista Agulhas Negras)

13.   Recuperação em platôs e bases de escaladas do Morro do Anhangava – Alexandre Lorenzetto (Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais)

14.   O Clube Paranaense de Montanhismo – Ronaldo Franzen Júnior, o Nativo

Sexta-feira, dia 16 de agosto

1.       Morfotectônica dos Maciços Alcalino de Itatiaia e Passa Quatro – José Marcelo

2.       Solos em campos rupestres altimontanos da Mantiqueira Espinhaço – Vinícius de Melo Benites (Embrapa Solos)

3.       Programa Nazareno Verde – Rogério Resende Martins Ferreira (Torba Sols & Societes)

4.       Desenvolvimento Rural Sustentável em Microbacias Hidrográficas – Helga Restum Hissa (Embrapa)

5.       Agricultura de Montanha – André Vieira Ramos de Assis (Ministério da Agricultura)

6.       Ecologia e biogeografia de plantas sobre rocha no Planalto do Itatiaia – Kátia Torres Ribeiro

7.       Caracterização e mapeamento de Geoambiente e estudo dos solos da Serra Verde, visando gerar subsídios para a gestão ambiental da APA da Mantiqueira – Felipe Nogueira Bello Simas (Universidade Federal de Viçosa)

8.       Composição de espécies de roedores e marsupiais no sudeste do Brasil – Renato Mangolin

9.       Análise exploratória de variáveis ambientais em ecossistemas montanhosos – Brenner Stefan Gomes Silva (INPE)

10.   Conscientização ecológica da comunidade regional sul mineira – Maria Cristina Weyland Vieira (Instituto Sul Mineiro)

11.   Cursos de educação ao ar livre – Humberto Medaglia (Outward Bound Brasil)

12.   Programa de Ordenamento Turístico para Vila de Monte Verde/MG – Ana Polleto

13.   Projeto Monitor de Ecoturismo – Antônio Leão (Prefeitura Municipal de Resende)

14.   20 anos de Guias de Ecoturismo na Região das Agulhas Negras – Ralph Salgueiro e Danielle Batista

15.   Projeto Infotrilhas – Flávio Zen (Instituto de Ecoturismo do Rio de Janeiro)

16.   APA da Serrinha, 10 anos – Ednilda Teixeira (Crescente Fértil)

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CARTA PARA O ECODESENVOLVIMENTO DAS MONTANHAS 

Os participantes do Seminário de Mobilização para o Ecodesenvolvimento de Montanhas, realizado nos dias 15 e 16 de agosto de 2002, no Parque Nacional do Itatiaia, representando 44 Organizações atuantes nos estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, considerando:

1. A existência de importantes maciços montanhosos no Brasil;

2. A enorme riqueza em recursos geobiohidrológicos, diversidade biológica, cultural e paisagística presentes nos ecossistemas de montanha;

3. As numerosas iniciativas realizadas pela Sociedade, Instituições de Ensino, de Pesquisa e Órgãos Governamentais para a conservação do ambiente de montanha;

4. O potencial humano e as demandas sociais dos moradores das montanhas;

5. O estabelecimento, pela Organização das Nações Unidas (ONU), do Ano Internacional das Montanhas e a realização, nesse marco, de dezenas de atividades internacionais no ano de 2002.

Propõem-se a realizar e articular iniciativas, nas suas diversas regiões e áreas de atuação, visando o ecodesenvolvimento das regiões de montanha, em especial nas áreas sociais, ambientais, econômicas, esportivas e de pesquisa.

Convidam todos os setores da sociedade para olhar para as montanhas, cuida-las e reconhece-las como fonte de vida indispensável ao presente e futuro da humanidade.

E solicitam ao Governo Brasileiro que, a partir do movimento espontâneo da sociedade civil expresso nessa Mobilização para o Ecodesenvolvimento de Montanhas, seja iniciado o processo de criação do Comitê Nacional para os Ecossistemas de Montanhas, a fim de articular, apoiar e potencializar ações, estabelecer políticas nacionais específicas e interagir com os órgãos do Sistema das Nações Unidas coordenadores do Ano Internacional das Montanhas.

Porque somos todos gente de montanha.

Itatiaia, 16 de agosto de 2002.