PROJETO MONITOR DE ECOTURISMO – RESENDE -RJ
AULA PRÁTICA NO PLANALTO DO ITATIAIA - 20 / JUL / 2002

por Antônio Leão*

Com o objetivo de conhecer de perto o trabalho que a Dra Katia Torres Ribeiro, bióloga e montanhista, desenvolve no planalto do Parque Nacional do Itatiaia, os alunos do Projeto Monitor de Ecoturismo de Resende visitaram, no último sábado, dia 20 de julho, as trilhas que levam às Prateleiras, Pedra da Tartaruga e Pedra da Maçã. O diretor do Parque, Dr. Léo Nascimento, gentilmente nos isentou do pagamento da taxa de visitação. Participaram junto comigo na excursão os voluntários Daniel Beildeck, Valdinei Batista (GEAN), minha esposa Gisele Ferreira e o nosso filho Arthur Leão, de 6 anos. Partimos de Resende, às 6h40 da manhã, em um microônibus cedido pela Secretaria Municipal de Educação de Resende e chegamos no Abrigo Rebouças às 9 horas. Neste local apresentei aos monitores os nossos convidados especias: Katia, suas filhas Luisa, 6, e Mariana, 3, e seu marido, o biólogo João Madeira.

Katia concluiu este ano a sua tese de doutorado e o seu tema foi a rara vegetação que cresc7 sobre as rochas do Itatiaia. Desde 1998 ela realiza suas pesquisas quando então, ainda grávida da Mariana, acampou por dias no planalto, onde a temperatura freqüentemente fica abaixo de zero. Em agosto de 2001, ela foi convidada pelo diretor do PNI para coordenar a equipe que elaborou o plano de ação após o último grande incêndio. Este plano visava a recuperação das áreas atingidas pelo fogo e o estabelecimento de normas para o controle da visitação. Questões como a obrigatoriedade de guias para as excursões, fechamento de algumas trilhas e a limitação do número de visitantes são difíceis e polêmicas, mas foram tratadas pela bióloga com muita sensibilidade e inteligência.

Em sua palestra inicial Katia nos falou sobre algumas espécies de plantas endêmicas do planalto, que sempre viveram protegidas pelo isolamento e que agora correm o risco de desaparecer para sempre. Elas são remanescentes das glaciações que ocorreram há mais de 18 mil anos atrás. "Naquela época as plantas de altitude podem ter aproveitado o clima seco e frio para se espalharem. Plantas da cordilheira dos Andes têm parentes no nosso Itatiaia. Quando as temperaturas voltaram a subir, as florestas voltaram com força e os campos ficaram mais isolados nas áreas altas, onde o clima continuava frio e seco", explica Katia.

O isolamento permitiu que algumas plantas evoluíssem para formar novas espécies.
Após esta introdução, iniciamos a trilha que leva às Prateleiras onde observamos os pseudo caules do capim-de-anta. Apesar da rebrota acelerada pelas chuvas do verão passado, eles ainda mostram o aspecto carbonizado causado pelo incêndio. Devido ao seu formato arredondado e escuro são também chamados de cabeça-de-negro. Katia nos mostrou que outras plantas crescem sobre as touceiras deste capim. A cada incêndio as gramíneas ganham mais espaço dominando a vegetação do planalto. Segundo a bióloga, pode-se dizer que o capim cria as condições necessárias à sua expansão por serem altamente inflamáveis sendo ao mesmo tempo capazes de sobreviverem ao fogo. Dessa maneira, tomam espaço das samambaias, lírios, bromélias e muitas outras plantas. No final da caminhada fomos contemplados com a visão das ilhas de vegetação que Katia chama de seu jardim. Algumas dessas preciosidades levam 150 anos para crescer 50 centimetros! Este jardim parece ter sobrevivido ao terrível incêndio embora não esteja totalmente a salvo das conseqüências de tantas décadas de destruição e das ameaças que ainda permanecem, entre elas o pisoteio dos incautos turistas que tanto apreciam o nosso Parque do Itatiaia.

Nós do Projeto Monitor de Ecoturismo, por sermos excursionistas e amantes das Montanhas, admiramos o talento da Katia Torres e nos identificamos com a sua perseverança e amor pela natureza. Consideramos por demais valioso o Conhecimento que é capaz de enfrentar as graves ameaças ao nosso patrimônio natural
e não se deixa acomodar nos confortáveis túmulos que a vida acadêmica muitas vezes cria para si. Por isso homenageamos a nossa ilustre palestrante com o brevê com o qual, em Resende, são credenciados os guias de trilhas da Região das Agulhas Negras. Trata-se apenas de um emblema que usamos em nossas mochilas e anoraques, mas que para nós possui um importante significado.

No retorno da nossa caminhada fomos surpreendidos pela inesgotável energia de Arthur e Luisa (eles normalmente voltam no colo ou "cacunda", como diz a Mariana). Os dois formaram um par de montanhistas invencíveis, principalmente após terem descoberto a Pedra do Poder, um mistério ainda não desvendado pelos estudiosos do Itatiaia.


*Coordenador do Projeto Monitor de Ecoturismo
Membro do GEAN – Grupo excursionista Agulhas Negras

 

 

 

 

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