A BRIGADA DOS AMIGOS DO PARQUE

Por Anita Bevilaqua

Como é a vida! Na edição passada, publicamos uma matéria super legal que tratava das últimas aulas práticas e da formatura da primeira turma de guias mirins, um projeto que está sendo desenvolvido pela Prefeitura de Resende em parceria com a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e o Parque Nacional do Itatiaia. Agora, voltamos ao assunto para falar de uma tragédia que teve início no dia 18 de julho, quarta-feira, causada exatamente por uma excursão feita sem guias especializados para a atividade.
Um incêndio devastou cerca de 600 hectares na parte alta deste parque. O fogo foi provocado por dois turistas de São Paulo que, perdidos próximo ao Abrigo Rebouças, atearam fogo para sinalizar um pedido de socorro. As chamas rapidamente se alastraram pela vegetação seca e altamente combustível devido a longa estiagem.
Anderson Naves, presidente do Grupo Excursionista Agulhas Negras (GEAN), estava retornando das Prateleiras com um grupo e partiu em socorro dos jovens, de 14 e 22 anos de idade. "Os dois estavam isolados em cima de uma rocha tomados pelo pânico. Eles iam morrer queimados pois estavam cercados por labaredas com mais de três metros de altura", conta Naves.
Sua primeira atitude foi resgatá-los daquela armadilha. "Foi difícil pois um deles estava com cãibra e não conseguia andar. Quando chegamos na estrada, pedi a um casal que estava num jipe para avisar ao Prevfogo do parque". Em seguida, o excursionista se reuniu a outras pessoas que já se preparavam para enfrentar a tragédia.
A primeira preocupação foi resgatar os turistas que estavam nas trilhas, o que foi feito com o apoio da Associação de Monitores Ambientais de Itamonte (AMAI). Cerca de 200 homens do Exército, Corpo de Bombeiros e Brigada PrevFogo e guias locais, funcionários do Ibama e voluntários se mobilizaram para combater o incêndio que já se mostrava incontrolável.

VOLUNTÁRIOS DE RESENDE

Uma equipe de voluntários da Prefeitura de Resende foi mobilizada pelo secretário municipal do Meio Ambiente, Wilson Moura, e partiu para o planalto no segundo dia do incêndio. O secretário municipal de Obras, Jorge Mattos, providenciou enxadas e a confecção de abafadores para o trabalho. O comando do grupo ficou por conta de Ismar Costa e Silva, chefe do grupamento Florestal da Guarda Municipal.
Também participaram: os fiscais da Secretaria de Meio Ambiente Eleno Corrêa, Luiz Roberto Andrade de Souza, Marco Antônio da Conceição e Paulo Santana; os geanistas Antônio Leão e Valdinei Batista; e o ambientalista Luís Felipe César, da organização não-governamental Crescente Fértil.
Todos se apresentaram à Brigada PrevFogo e, em seguida, partiram a pé rumo à linha de fogo. A caminhada foi feita durante a noite de quinta-feira e de madrugada o grupo alcançou o Massenas, um abrigo abandonado. Lá já estavam um dos guardas florestais da Serrinha, Paulo Donizete, e um grupo de bombeiros e voluntários.

DIAS DE TENSÃO

No dia seguinte, Naves guiou um capitão e 14 soldados da AMAN em direção à Serra do Palmital. Os voluntários de Resende, junto com bombeiros, debelaram todos os focos no vale atrás das ruínas da antiga estação meteorológica.
No sábado, um dos últimos focos do incêndio chegou a se aproximar da cachoeira Véu de Noiva, um dos cartões postais da parte baixa do Parque. Outro foco avançava em direção da região de Visconde de Mauá e um terceiro a São Paulo.
Os geanistas, liderados por Naves, se juntaram à Brigada de Voluntários da Fundação Matutu, e desembarcaram de helicóptero nas margens do rio Campo Belo, onde o fogo ameaçava uma floresta de araucárias. Aliás, desde o início da tragédia, helicópteros da Marinha, da AMAN e da Polícia Militar tiveram papéis fundamentais.
O combate contra o incêndio no Parque Nacional só terminou no domingo. Os últimos focos, na Pedra do Urubu e no Pinheiral, foram completamente apagados pela equipe GEAN, com cinco integrantes; a Brigada de Voluntários da Fundação Matutu, com 13; e três membros do Prev-fogo do Parque.
Em outras áreas, participaram voluntários da Prefeitura Municipal de Itatiaia, Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, Parque Estadual Nova Baden (Lambari/MG) e SOS Mata Atlântica.

OPINIÃO DE QUEM ENTENDE

A frente fria que chegou no domingo, embora com pouca precipitação, tranqüilizou o pessoal, embora a preocupação com o risco de novos incêndios permaneça até setembro. De acordo com o gerente do Parque, Léo Nascimento, a parte alta do local será fechada por três meses para avaliação.
Na opinião de Anderson Naves, para que a possibilidade de tragédias como esta diminuam, é preciso disciplinar o ingresso de visitantes no Parque, com o acompanhamento de condutores devidamente cadastrados e o agendamento das visitas com antecedência. O geanista e guia nacional Antônio Leão concorda com o presidente do GEAN.
"Pela minha experiência, 50 pessoas já causam engarrafamento na subida das Agulhas Negras, por exemplo. Além de danos ambientais, isso pode ser perigoso. Imagina um engarrafamento na base com o fogo subindo. O desastre será muito maior", preocupa-se o guia.
Ele acrescenta ainda a necessidade de placas fixadas em pontos estratégicos, como o planalto, Visconde de Mauá, sede do PNI etc, orientando os turistas a procurarem guias especializados para os passeios nas trilhas da região. Leão sugere ainda que as prefeituras, hotéis e pousadas dos municípios em torno do parque ajudem o Ibama, se engajando nessa luta de conscientização para a preservação de um patrimônio que gera não só um ar saudável como emprego e renda para todos.
O geanista acha necessário ainda um esquema no parque para que os interessados possam telefonar para agendar as visitas e contratar um condutor. Ele aconselha, para maior segurança das pessoas, que as excursões sejam acompanhadas por dois guias; na frente e outro atrás.

UM EXEMPLO

O recente desastre ambiental no Parque Nacional do Itatiaia mostra, mais uma vez, o descaso com que o país trata seus patrimônios. E não só o governo federal. A falta de interesse também existe nos governos estaduais e municipais e no setor privado, especialmente de empresários do turismo, que vivem dos nossos patrimônios naturais mas dão a eles muito pouco ou nada em troca. Ou pior: ajudam a poluir, a devastar...
Faltam recursos, principalmente humano, para que haja uma fiscalização eficiente, campanhas de conscientização, trabalhos em escola etc. Como bem lembrou Antônio Leão, o Parque Nacional do Itatiaia já tem 37 guias, 24 formados em 2000 e 13 recentemente - uma iniciativa da Prefeitura de Resende com o apoio da AMAN e da administração do Parque. Mas isso não é tudo. É preciso estrutura, propaganda, conscientização, para que eles cumpram suas funções, para que nossas riquezas sejam preservadas.
O incêndio no Parque, por outro lado, não teve só resultados ruins. Foi muito bom ver o número de voluntários que se mobilizaram para socorrer a natureza. A todos, no que lhe cabe, Resende agradece muito e espera que outros se sensibilizem não só para grandes tragédias ambientais, mas também para aquelas do dia-a-dia, como jogar papel no chão, lixo e esgoto nos rios...

 

 

 

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